O apóstolo Paulo disse, nas escrituras, que nós devemos perdoar “como” Deus nos perdoou em Cristo. A palavra “como” aponta duas coisas. Temos que perdoar porque Deus nos perdoou. Mas devemos também perdoar como, ou da mesma forma ou maneira, que Ele nos perdoou. Então, como Deus, em Cristo, nos perdoou? Isto nos leva as cinco verdades sobre perdão.
1. Deus, em Cristo, nos perdoou, absorvendo as consequências destrutivas e dolorosas de nossos pecados contra Ele.
Jackie Pullinger é uma missionária e plantadora de igrejas em Hong Kong cuja incrível história de vida é contada em sua autobiografia, “Chasing the Dragon” [Perseguindo o Dragão]. Um incidente em particular aconteceu nos primeiros anos de ministério de Jackie que ilustra o ponto aonde quero chegar. Um jovem chamado Ah Ping se uniu à Tríade (gangue que controla a criminalidade em Hong Kong) quando tinha apenas 12 anos. Ele logo passou a ser sustentado financeiramente por uma prostituta de 14 anos de idade. Quando Jackie apareceu e começou a agir com misericórdia e bondade para com Ah Ping e seus companheiros, ele disse-lhe prontamente: “É melhor você ir embora. Apenas saia daqui. Nós não somos bons. Vá encontrar alguém que apreciará o que você está fazendo e seja grato por seu perdão. Vamos apenas machucá-la, explorá-la e chutá-la. Por que você ainda está aqui? Com o que você se importa?” Jackie respondeu, “Eu fico porque é isso que Jesus fez por mim. Eu também não o queria. Mas Ele não esperou até que eu fosse boa e procurasse por Ele. Ele morreu por mim enquanto eu era sua inimiga abominável. Ele me amou e me perdoou. Ele também ama vocês.”
“Sem chance”, gritou Ah Ping. “Ninguém pode nos amar assim. Estupramos, brigamos, roubamos e esfaqueamos. Ninguém pode nos amar.” Ela explicou como Jesus não os amava pelo que faziam, mas que Ele ainda amava pecadores e estava disposto a perdoá-los. Ah Ping estava destruído. Ele sentou-se na esquina da rua e recebeu Cristo como seu salvador. Não muito depois de sua conversão, Ah Ping foi atacado por uma gangue de jovens e foi espancado sem misericórdia com bastões. Quando seus amigos juraram vingança, Ah Ping disse: “Não. Sou cristão agora e não quero mais brigar.”
O que transformou Ah Ping? O que aconteceu para ele ter a reação de perdoar seus inimigos? Foi a percepção de que Jesus Cristo absorveu em si mesmo as consequências dos pecados de Ah Ping.
Então, o que é perdão? É decidir viver com as consequências dolorosas do pecado de outra pessoa. De qualquer maneira, você vai ter que viver com isso, então você poderia fazê-lo sem amargura, rancor e ódio que ameaçam destruir sua alma.
2. Deus nos perdoou em Cristo, cancelando a dívida que lhes devíamos. Ou seja, isso é dizer que não somos mais responsáveis pelos nossos pecados ou, de qualquer forma, obrigados a pagar por eles.
A maneira de cancelarmos a dívida de alguém que pecou contra nós é pela promessa de não levá-la ao ofensor, aos outros ou a nós mesmos. Alegremente, decidimos nunca jogar o pecado na cara de quem o cometeu. Prometemos nunca exibirmos a dívida na frente deles, usando isto para manipular e envergonhar. E prometemos nunca levá-los a outras pessoas com a intenção de justificar-nos ou prejudicar sua reputação. E finalmente, prometemos nunca trazermos a nós mesmos com a intenção de auto-piedade, nem para justificar o ressentimento da pessoa que nos feriu.
3. Perdoar os outros como Deus tem nos perdoado significa decidir abandonar o desejo de vingança.
Como mencionado anteriormente, isso não significa que você deixará de desejar que a justiça seja feita. Isso significa que você recusa, pela Graça de Deus, a deixar a raiva e a dor determinarem uma data exata para a dívida ser paga, seja qual for o pagamento: emocional, físico, financeiro ou relacional. Isso também significa recusar usar seu passado de sofrimento para justificar seu pecado atual.
4. Perdoar os outros como Deus tem nos perdoado significa que determinamos fazer o que é bom ao invés de mal. Leia especialmente Romanos 12.17-21
Isso pode implicar em fazer simples atos de bondade, como cumprimentá-los cordialmente, com o coração, ou fornecendo uma refeição quando estiverem doentes ou outra rotina de compaixão e misericórdia. O que conseguirá com isso? Será um misto de surpresa e constrangimento para eles.
Normalmente uma pessoa peca deliberadamente contra você na expectativa de que você responda da mesma forma. Se você fizer isto, é justificado, na mente da, o pecado cometido contra você. A última coisa que eles esperam é que demonstrações de bondade e força. Assim, quando o mal é respondido com bondade, ela o desarma; eles ficam perturbados com incredulidade. “Bondade”, escreve Dan Allender em seu livro Bold Love, “quebra o encanto que o inimigo tenta lançar e o torna sem efeito.” Com esperança, isso irá abrir a porta de seu relacionamento e irá conduzi-lo a uma genuína vida transformada.
Responder desta forma também o envergonhará. Não estou falando de vergonha em um sentido ruim da palavra, como se você estivesse buscando humilhá-lo. Em vez disso, sua esperança é expor seu coração, sua motivação, e permitir que ele veja a maldade de seus atos. Responder o mal com o bem obriga o infrator a olhar para si mesmo ao invés de olhar para você. Quando a luz da bondade reflete de volta em sua escuridão, ela é exposta como sendo o que realmente é. A vergonha que sente em ser “descoberto” vai endurecer ou amolecer seu coração (depende de como ele/ela vai responder a isso).
5. Deus nos perdoou em Cristo nos reconciliando consigo mesmo, restaurando o relacionamento que o pecado havia destruído.
Muitas vezes evitamos perdoar porque queremos evitar conflitos. Ir ao ofensor e dizer, “Eu o perdôo”, carrega o potencial de uma explosão. Eles podem até negar ter pecado contra nós. Mas o perdão verdadeiro busca relacionamento e restauração. Perdão verdadeiro não é satisfeito com apenas cancelar uma dívida. É necessário amar de novo.
É necessário lembrar-se de duas coisas aqui. Primeiro, a pessoa ofendida pode recusar suas investidas de bondade e resistir a qualquer esforço de sua parte para se reconciliarem. Mas isso, em uma análise final, está fora de seu controle. Como Paulo disse em Romanos 12.18, sua responsabilidade é fazer o que estiver ao seu alcance para estar em paz. Se eles recusarem estar em paz com você, a falta é deles. Você vai, pelo menos, ter cumprido sua responsabilidade diante de Deus. Segundo, muitas vezes, quando a reconciliação ou restauração é bem sucedida, o relacionamento nunca volta a ser o que era antes da ofensa cometida. Confiança e prazer na outra pessoa levaram um tempo para serem restauradas de um pecado grave e, algumas vezes, nunca retornarão por completo. Mas mesmo se isso não ocorrer, não significa que você não tenha perdoado totalmente.
Concluindo, nada disso fará sentido para alguém que nunca experimentou, recebeu e provou o regozijo do perdão de Deus em Cristo Jesus. Se não perdoamos como as escrituras mandam, talvez o problema esteja em nossa ignorância do que Deus fez por nós através de Cristo. É por isso que a chave para o perdão é a cruz.
Sam Storms
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