sexta-feira, 29 de julho de 2011

O presente do Evangelho

Jason sentou à minha frente com a cabeça baixa e os ombros largados, características de um homem confuso e desapontado. Não é que a vida de Jason fosse uma triste narrativa de sofrimento pessoal. Claro, ele já havia enfrentado situações difíceis, mas foram apenas situações típicas que são enfrentadas quando se vive em um mundo perturbado pelo pecado. Não é como que Jason fosse alienado e sem amigos. Ele estava cercado por um grupo de amigos menos que perfeitos, mas ainda assim muito fiéis. Não é como se Jason fosse pobre ou sem teto. Não, ele tinha um emprego comum e uma casa razoável.
O problema de Jason é que ele estava perdido em meio à sua própria fé. Estava cada vez mais difícil para ele conectar a beleza do que acreditava com as realidades duras e muitas vezes difíceis de sua vida diária. O problema de Jason é que ele carregava consigo um evangelho que tinha um grande furo bem no meio.
Jason saberia te explicar o que significava dizer que ele havia sido “salvo pela graça”, e ele sabia que passaria toda a eternidade com seu Salvador. O problema era o presente, o aqui e o agora. Dia após dia, situação após situação e relacionamento após relacionamento, Jason não levava consigo o sentido prático e vibrante do presente da graça de Jesus Cristo. Sim, Jason acreditava na vidaapós a morte, mas ele precisava desesperadamente entender a vida antes da morte; aquele tipo radical de vida que você vive quando entende o que Cristo te deu, a vida para qual ele te chamou para viver aqui e agora.
Deixe-me sugerir quatro aspectos críticos do presente do evangelho (existem mais) para os quais Jason parecia estar cego.
  1. A Graça vai destruir o que você pensa de si mesmo, enquanto te dá uma segurança quanto à identidade que você nunca teve. A graça vai expor o seu pecado, mas não te deixará sem identidade. A graça libertou Jason, mas ele não sabia disso, ou não vivia como se soubesse. Não só ele havia sido perdoado e capacitado, mas agora ele também tinha uma nova identidade. Jason estava livre de buscar em si mesmo a sua identidade. Ele não precisava mais manter um histórico de erros e acertos, ou do tamanho dos problemas que enfrentava.
    Seu potencial era tão grande quanto a graça de Cristo. Ele estava livre de buscar em seu exterior a sua identidade. Ele não precisava mais buscar uma identidade nos relacionamentos, posses ou aquisições. Jason estava livre de procurar horizontalmente o que já havia recebido verticalmente.
    Sua identidade não estava mais embasada no que ele poderia merecer ou alcançar, mas no que ele havia recebido de Cristo. O problema era ele não saber disso, então vivia em uma constante busca por significado e propósito, procurando por identidade em coisas onde jamais poderia encontrar.
  2. A graça vai expor os pecados mais profundos do seu coração, mas cada falha sua com o sangue de Jesus.Jason não precisava mais inventar desculpas, negar, racionalizar ou minimizar seu pecado. Ele não precisava mais exercitar seu advogado interior quando alguém apontava algum erro seu. Por causa da cruz de Jesus, Jason podia admitir sua fraqueza e seu fracasso perante um Deus santo e não ter medo disso. E se um Deus santo havia lhe aceitado como ele era, por que Jason iria temer a opinião dos outros?
    Jesus tomou sobre si a rejeição destinada a Jason para que ele não precisasse ver Deus pelas costas. A graça libertou Jason da necessidade de provar para Deus, para si mesmo e para os outros a sua justiça. A esperança e a segurança de Jason não estavam mais em sua própria justiça, mas na justiça dada a ele por meio de Cristo. O problema é que ele não sabia disso, então oscilava entre o medo e o orgulho, vivendo de desculpas auto-justificantes e de defender-se perante os outros.
  3. A graça te faz perceber o quanto você é fraco, enquanto te abençoa com um poder além da sua imaginação.A graça de fato requer que você admita o quão fraco você é, mas ela não te deixa aí. A cruz não apenas lida com a culpa do pecado, mas com a própria capacidade de pecar ou não. Nesse mundo destruído cheio de dificuldades e constantes tentações, Jason se sentia fraco e despreparado, e assim vivia mais com medo e se escondendo do que esperançoso e com coragem.
    Jason não apenas recebeu perdão, ele foi cheio de poder; poder além da sua imaginação (Efésios 3.20,21). O problema é que Jason não sabia disso, então ele sucumbia às coisas que ele tinha poder para vencer e evitava coisas que ele tinha o poder para conquistar.
  4. A graça vai tirar o controle de suas mãos, enquanto te abençoa com o cuidado dAquele cujos planos não mudam e são totalmente perfeitos. Jason tinha algum tipo de crença distante na soberania de Deus, mas de uma forma totalmente afastada de sua vida diária. Ele vivia como se não tivesse a mínima idéia de que Jesus estava sobre controle de todas as coisas para o seu bem (Efésios 1.20-23). Assim, Jason estava constantemente tendo que lidar com a frustração de tentar controlar pessoas e outras coisas sobre as quais tinha pouco ou nenhum poder para fazê-lo.
    Ele gastava muito tempo calculando os “e se?” e se remoendo pelos “talvez se”. Ele parecia não saber que sua segurança e descanso não seria encontrados em sua habilidade de prever o futuro e controlar o presente, mas no amor fiel e na grande sabedoria de seu Salvador soberano, Jesus, logo, sua vida era muito mais de ansiedade do que de descanso.
Como você pode ver, Jason não precisava de mais graça. Não, ele apenas precisava entender e viver sob a luz da graça que ele já havia recebido.  Jason estava com amnésia da graça, e assim vivia como se fosse pobre, quando a graça já o havia feito excepcionalmente rico. Ele vivia como se fosse fraco, quando a graça o havia feito forte. Ele vivia como se a vida não tivesse um plano, quando ele já havia sido incluído nos planos inalteráveis do Deus da graça redentora.
Jason carregava um evangelho com um imenso buraco bem no meio e, por causa disso, não vivia a liberdade, a beleza e a segurança que já havia recebido aqui e agora. E você?
Paul Tripp

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